Edição 109 – Fevereiro de 2015
Reportagem: Iluminação Comercial
Por Bruno Moreira
Até 2023, o Led representará 74% das vendas de lâmpadas para projetos de retrofit voltados ao segmento de iluminação comercial. Preço do produto, que ainda é um obstáculo, cai vertiginosamente a cada ano.
Há pouco menos de 20 anos o segmento de iluminação vem passando por uma intensa mudança impulsionada pelo uso mais difundido do Diodo Emissor de Luz, o Led, tecnologia que ilumina com alto índice de qualidade e é bem mais eficiente do que as demais lâmpadas existentes no mercado. A transformação acarretada por esta “nova” tecnologia é comparada à que ocorreu após o surgimento da lâmpada incandescente inventada por Thomas Edison em 1879, ao ponto de alguns especialistas do setor afirmarem que todos os outros tipos de lâmpadas (halógenas, fluorescentes compactas e tubulares, a vapor metálico, de sódio e mercúrio), nascidas após a incandescente, serviram apenas como escada e ponte para o Led.
Atualmente, luminárias e lâmpadas do tipo Led estão cada vez mais presentes nas instalações, se comparadas ao início de sua utilização. Contudo, ainda perdem e muito para outras tecnologias. Para se ter uma ideia, no Brasil, de uma forma geral, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), em 2014 foram consumidas 20 milhões de lâmpadas de Led. Número respeitável, mas ainda pouco representativo, ante o consumo de halógenas (85 milhões), tubulares (100 milhões), incandescentes (150 milhões) e fluorescentes compactas (250 milhões).
Na área comercial, por exemplo, mercado muito profícuo em oportunidades para eficientização de energia, segundo levantamento realizado pelo Instituto internacional Navigant Research, a participação da tecnologia no mercado mundial de iluminação ainda é muito baixa, mas deve aumentar consideravelmente na próxima década. A pesquisa informa que as vendas de lâmpadas e luminárias Led devem se tornar mais aquecidas em razão dos projetos de retrofit, que estimularão as trocas de lâmpadas antigas por equipamentos mais eficientes. Conforme o levantamento, a participação da tecnologia na comercialização de produto para este fim ainda é relativamente pequena, de apenas 15%, mas irá se elevar bastante até 2023, saltando para 74%. Dessa forma, paulatinamente, o Led eliminará tecnologias como incandescentes e halógenas e “roubará” uma boa parte do mercado de lâmpadas um pouco mais eficientes, como fluorescentes tubulares T8 e T5 e fluorescentes compactas.
O que impede ainda o uso em maior quantidade do Led é seu preço que, no entanto, conforme o especialista em iluminação e diretor-técnico da Abilux, Isac Roizenblatt, vem caindo vertiginosamente ao longo dos anos. Reiterando as palavras de seu colega de área, o engenheiro de produção e presidente-executivo da Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação (Abilumi), Georges Blum, salienta que o preço vem caindo cerca de 50% a cada ano. “Então, em pouco tempo, acho que em dois ou três anos, a lâmpada vai começar a ser bem popular”, diz.
Mesmo ainda mais cara, tendo em vista o investimento inicial, a tecnologia se mostra bastante competitiva economicamente, por conta do seu baixo consumo energético. De acordo com a associação, os produtos, que proporcionam a mesma quantidade e muitas vezes mais qualidade de luz, consomem cerca de 85% menos energia que as lâmpadas incandescentes, 70% a menos que as fontes a vapor de mercúrio, 65% menos que as fluorescentes compactadas, 50% menos que as lâmpadas a vapor de sódio, e 40% menos do que as fluorescentes tubulares comuns.
Outro fator que transforma, em muitos casos, a iluminação tipo Led em um negócio menos dispendioso do que a iluminação tradicional é a maior durabilidade de seus produtos. Atualmente, segundo Roizenblatt, o Led apresenta vida útil de 25 mil a 30 mil horas, podendo chegar até a 50 mil horas. E em um futuro próximo, poderá chegar a 100 mil horas. Uma lâmpada incandescente, por exemplo, dura mil horas, uma halógena 2 mil horas, e uma fluorescente compacta tem a vida útil de 8 mil horas. A eficiência luminosa também conta a favor do Led. Enquanto este apresenta uma eficiência de 200 lúmens/Watt, a lâmpada fluorescente, a mais utilizada em empresas, apresenta eficiência luminosa de 70 lúmens/Watt.
Fundamentado nestes números, percebe-se que o Led é extremamente vantajoso em comparação aos demais tipos de lâmpadas. A tecnologia é mais econômica, apresenta maior durabilidade e é mais eficiente. Como dito, o único empecilho inicial atualmente é o preço do produto. Uma lâmpada tipo Led, em média, custa o dobro de lâmpada fluorescente. Mas, em razão de todos os outros quesitos mencionados, trata-se de um investimento que acaba se pagando, mais cedo ou mais tarde, segundo o diretor-técnico da Abilux. “Trata-se de um jogo de ganha-ganha em todos os casos”, afirma o especialista.
Conforme Roizenblatt, o investimento é sempre vantajoso. “A lâmpada é cara, mas há retorno”, diz. Como exemplo, o especialista recorre ao seguinte cenário: uma residência com dez pontos de luz, na qual serão substituídas quatro lâmpadas incandescentes de 60 W e seis lâmpadas fluorescentes compactas de 15 W, por 10 lâmpadas Led de 6 W. Tendo em vista, conforme o diretor da Abilux, que cada lâmpada custa em torno de R$ 20,00, o investimento inicial será de R$ 200,00. Trabalhando com um quilowatt-hora de R$ 0,60, no primeiro ano de uso haverá uma economia de R$ 162,00. Ou seja, em 14/15 meses, o consumidor já recebe de volta o dinheiro que gastou no Led.
Isso em uma residência, cujas luzes ficam acesas em média três horas por dia. No caso de um estabelecimento comercial, em que a iluminação elétrica costuma funcionar por mais horas, o retorno do investimento inicial costuma vir em menos tempo, de acordo com o diretor-técnico da Abilux. Um corredor de hotel, por exemplo, fica aceso 24 horas por dia, o que dá um pouco mais 8.700 horas por ano. Levando em conta os cálculos feitos anteriormente, o retorno se dá oito vezes mais rápido do que em uma residência, ou seja, em vez de 15 meses, em dois, três meses, no máximo.
Além disso, tem a durabilidade da lâmpada Led, que é maior do que as usuais. No caso de um Led com vida útil de 25 mil horas, o retorno financeiro em uma residência perdurará por mais de 20 anos. Já no caso do corredor do hotel – que funciona 24 horas diariamente – os ganhos durarão por mais dois anos e meio até a substituição de lâmpada.
Nesse sentido, destaca Roizenblatt, o nicho de iluminação comercial é o que anda com mais rapidez a fim de substituir as lâmpadas convencionais por Led. “Seja no segmento comercial ou industrial, investe-se mais porque rapidamente o capital investido retorna. Por que mais rapidamente retorna o capital? Porque apresentam mais horas de uso”, explica o especialista em iluminação.
O presidente-executivo da Abilumi, Georges Blum, destaca também o crescimento da procura de consumidores comerciais por lâmpadas Led. Conforme o engenheiro, ao contrário das residências, boa parte das empresas já fizeram a substituição de lâmpadas incandescentes por fluorescentes tubulares, em busca de mais eficiência energética. E também, almejando isso, é que, possivelmente, trocarão as tubulares fluorescentes pelas lâmpadas Led. O engenheiro relata que a importância de tubulares com Leds vem aumentando muito nos últimos anos.
Roizenblatt, por sua vez, chama a atenção para o fato de que, mesmo no segmento comercial, o Led se encontra difundido mais em determinados estabelecimentos do que em outros. Em lojas de shoppings centers, por exemplo, as lâmpadas dicroicas, as chamadas MR 16, são os equipamentos que mais rapidamente estão sendo substituídos por Leds. Já em escritórios localizados em edifícios empresariais isso não acontece. “Nos prédios novos eventualmente sim, mas nos antigos não”, diz.
Para o especialista em iluminação, a explicação está na falta de cálculos mais acurados por determinados empresários, no sentido de verificar que, em longo prazo, o Led é mais eficiente, mas também na falta de iniciativa dos eletricistas que realizam a manutenção dos equipamentos nas empresas. Nestas situações, conforme Roizenblatt, o profissional apenas obedece às ordens do proprietário e não pensa que pode beneficiá-lo, sugerindo a troca da lâmpada tradicional por Led. Assim, apenas substitui o produto por um outro igual. “Como eletricista, talvez ele não tenha esta cultura”, comenta Roizenblatt.
A participação do Led aumenta, as vendas diminuem…
O levantamento realizado pela Navigant Research aponta também uma série de transformações que deve acontecer na indústria de iluminação em consequência do aumento da participação do Led no mercado. Uma das principais diz respeito à queda de venda do número de produtos deste segmento, explicada pela maior vida útil da tecnologia. Ela reduzirá sensivelmente a troca de lâmpadas antigas por novas, como acontece nos dias atuais com os equipamentos tradicionais.
De acordo com a pesquisa, a expectativa do mercado é de que a receita referente às lâmpadas Led se eleve bastante no período 2014-2023, com uma taxa composta de crescimento anual de 8,8%. Não obstante, neste mesmo período, a taxa composta de crescimento anual relativa ao universo total de lâmpadas deve cair em 4,4%. O diretor-técnico da Abilux acredita que em um momento inicial, com o crescimento da participação do Led no mercado, o faturamento da indústria deverá crescer, seguido, no entanto, por um decréscimo, justamente em razão da extensa vida útil do produto. “O consumidor não trocará a fonte de luz porque ela queimou, mas sim porque ela saiu de moda”, afirma.
Forçada pela queda nas vendas, muitos fabricantes da área de iluminação irão, segundo o documento do Navigant Research, diversificar suas atividades, a fim de substituir a receita perdida. Irão se tornar prestadores de serviços de iluminação, além de produtores; se tornarão provedores de soluções completas de iluminação e não apenas de elementos físicos que emitem luz. Muitas empresas, inclusive, conforme o levantamento, já expandiram seus negócios, incluindo ao seu portfólio controles e sistemas de controles, a fim de incrementar sua produção de luminárias e lâmpadas, principalmente a de Leds, ao permitir a capacidade de dimerizar a luz e ajustar sua cor.
A pesquisa prevê também que o Led poderá ser responsável por uma mudança fundamental na maneira como a iluminação será fornecida a espaços comerciais. De acordo com o documento, o tradicional modelo lâmpada-luminária seria substituído por produtos que integrariam os dois dispositivos. Até o conceito de fornecer luz por meio de luminárias fixadas no teto poderia se tornar obsoleto, já que, mais planos e flexíveis, os Leds permitiriam desenhos mais criativos que poderiam ser incorporados em outros materiais de construção e instalados em posições menos convencionais.
Certificação compulsória para Leds
Um dos grandes obstáculos para o mercado de iluminação, no que diz respeito às luminárias e às lâmpadas do tipo Led, está atrelado à baixa qualidade de alguns dos produtos fabricados. Conforme Roizenblatt, esta baixa qualidade pode ser responsável por diminuir a vida útil dos equipamentos e, consequentemente, não tornar efetiva a economia financeira prometida pelo uso a longo prazo da tecnologia.
Como se sabe, a imensa maioria dos produtos com tecnologia Led fabricados no mundo vem da China. Isso, por si só, não é um problema, como destaca Georges Blum, da Abilumi, haja vista que há Leds de boa qualidade no país asiático. A grande questão encontra-se na ponta consumidora, ou seja, alguns importadores que parecem estar preocupados apenas com o preço baixo. “Quem determina a qualidade dos produtos é quem vai comprar”, garante o presidente-executivo da associação.
Já há diversas normas vigentes para Led no Brasil. Em 2013, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou diversos documentos com o objetivo de fornecer índices mínimos de qualidade referentes a diversos tipos de Led. Entre estas normas estão: a ABNT NBR IEC/ TS 65204, que traz termos e definições para Leds e os módulos de Led; a ABNT NBR 62560, que especifica os requisitos de segurança e intercambialidade para lâmpadas Led com dispositivo de controle incorporado para serviços de iluminação geral para tensão maior que 50 V; e a ABNT NBR 16205, partes 1 e 2, que especifica requisitos de segurança e desempenho para lâmpadas Led sem dispositivo de controle incorporado na base única. Contudo, alguns produtos vendidos aqui no Brasil ainda apresentam baixa qualidade.
A esperança de fabricantes e distribuidores brasileiros está depositada na certificação compulsória que o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) irá implementar. Uma portaria que disponibiliza a proposta de Requisitos de Avaliação da Conformidade (RAC) para a certificação compulsória de lâmpadas Led ficou em consulta pública até novembro de 2014. Em 10 de fevereiro deste ano, houve no Inmetro mais uma reunião para debater a RAC das lâmpadas Led e a expectativa é de que a portaria seja publicada o mais breve possível, talvez em março. De acordo com o presidente da Abilumi, tal medida deverá acarretar em uma melhora nas lâmpadas tipo Led do país e retirar do mercado os produtos de qualidade baixa.
A exigência da certificação acarretará ao produtor um custo adicional, pois será necessária a realização de ensaios e testes a fim de avaliar se as lâmpadas estão conforme às normas estabelecidas pela ABNT. Para Blum, no entanto, esta elevação no custo se trata de um “mal necessário”, no sentido de “colocar ordem” neste mercado.
Nesse sentido, já foi implementada em dezembro de 2014 uma importante iniciativa: a incorporação das lâmpadas Led ao selo do Programa Nacional de Conservação de Energia (Selo Procel), da Eletrobras. Nela, são contemplados com o selo apenas os produtos que atenderem a critérios específicos de segurança, qualidade e desempenho. Por exemplo, devem apresentar um valor de eficiência energética medida e declarada de no mínimo 80 lm/W.
A iniciativa contempla também que o fabricante, que tenha recebido o selo, reavalie anualmente, nos laboratórios indicados, seus produtos para checar se as características de desempenho e segurança elétrica permanecem válidas. Somente assim poderá ser mantida a autorização do uso da certificação. Além disso, o Procel exige que os produtos tenham garantia mínima de três anos e as lâmpadas Led são a 38ª categoria de equipamentos que recebe o Selo Procel.
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